Pelé fez sua estreia como jogador profissional em 1956 na cidade de Santo André, em São Paulo, contra o Corinthians local, pelo Campeonato Paulista daquele ano.
Veja a súmula do jogo.Percebe-se que a desorganização e o improviso no futebol brasileiro não é coisa de hoje. Naquele tempo, a súmula era feita a mão, embora a máquina de escrever já tivesse sido inventada há tempos.
Gravada em 1968 pelos Demônios da Garoa, a música Ói Nóis Aqui Tra Veis, pela letra e pela melodia, parece ser mais uma composição de Adoniran Barbosa, pois trata-se de um típico samba paulistano.
Parece, mas não é.
Embora utilizando o mesmo modo de se expressar, a marcchinha foi composta por uma dupla de jornalistas, muito mais que amigos, verdadeiros compadres.
Um foi GERALDO BLOTA, o GB. Jornalista, apresentador, cronista esportivo. GB foi repórter de campo da Rádio Jovem Pan num tempo em que seu locutor principal era… JOSEVAL PEIXOTO.Joseval Peixoto que há anos comanda o Jornal da Manhã, na Rádio Jovem Pan, e ultimamente vem comandando o Jornal do SBT ao lado de Raquel Sherazade.
Nos anos 60, Joseval e GB entendiam-se às mil maravilhas durante uma transmissão esportiva. Nem parecia que um estava na cabine e o outro dentro do gramado. Ficou célebre a brincadeira entre ambos quando um jogador dava um chute fraco para fácil defesa do goleiro.
JOSEVAL: Olha o chutinho dele, GB!
GB: Fraquinho, fraquinho!
A prova da autoria da música está no próprio compacto simples lançado pelos Demônios da Garoa, em 1968.
Assim, Ói Nóis Aqui Tra Veis pode ser considerada uma música ao estilo Adoniran, que Adoniran jamais compôs.
Clique no player e ouça Ói Nóis Aqui Tra Veis com Os Demônios da Garoa.
Os anos 60 trouxeram para o Brasil, entre outras coisas, o rock, o jeans e a Coca-Cola. Ser jovem era sinônimo de consumir ao menos dois desses três itens. Isso fez com que o guaraná, refrigerante genuinamente brasileiro, tivesse o seu consumo diminuído drasticamente. As pesquisas realizadas identificavam que o refrigerante guaraná estava associado a crianças e idosos, não aos jovens.
Coube, então, à agência de propagandas Almap, que detinha a conta da Antártica, reverter esse processo. Era preciso criar uma campanha a fim de atrair novamente o público jovem para a bebida nacional. O projeto foi confiado a Júlio Cosi Jr., diretor de criação da agência. Depois de muitos embates e debates com a equipe de redatores, um deles teve um estalo: “E por que não criar um personagem jovem, que gosta de guaraná, mas que tem medo e vergonha de pedir porque é considerado refrigerante de gente quadrada?” Essa ideia veio do redator e assistente de criação, o genial Sérgio Andrade (1928-2009), o Arapuã, ou mestre Arapa.
Arapuã sugeria um personagem jovem com todas as suas dúvidas e seus eventuais vacilos. E sentenciou: “Seu nome é Teobaldo”. Foi marcada uma reunião com conselheiros da Antártica juntamente com Walter Belian, presidente da companhia. Arapuã fala do Teobaldo e Belian aceita na hora, inclusive, chamando Arapuã de Teobaldo ao final da reunião.
Seria necessário, portanto, encontrar um ator para fazer o Teobaldo. Arapuã achava que não deveria ser galã e sim ter uma cara engraçada. A sugestão veio de Júlio Xavier da Silveira, diretor do Departamento de Cinema e Televisão. Lembrava ele de um ator, ainda em princípio de carreira, que fizera figuração em diversos programas de humor. E quem era o ator? Tratava-se de Roberto Marquis.
Roberto Marquis aceitou prontamente fazer a campanha. Todos os filmes da campanha foram feitos pela dupla Júlio Xavier da Silveira e Zé Pinto.
O primeiro comercial foi posto no ar em 1970 e o seu sucesso foi tão grande que em pouco menos de três meses o Guaraná Antártica voltou ao topo das vendas. Clique no vídeo abaixo e assista ao primeiro comercial do personagem Teobaldo.
Com o enorme sucesso de Teobaldo como um anti-herói, Arapuã resolveu criar a seguir aquele que seria o seu arqui-inimigo: O Boko Moko. Boko Moko foi uma expressão criada por Arapuã para adjetivar quem estivesse por fora da onda, ou seja, quem não tomasse Guaraná Antártica. Clique no vídeo abaixo e assista a um comercial de Teobaldo falando do Boko Moko (postado por Almanaque da Comunicação).
Muito se especulou sobre a criação do termo Boko Moko. Houve quem dissesse ser uma mistura de bocó com mocorongo. Porém, Sérgio Augusto Andrade, o Arapinha, filho de Arapuã, diz que nem o pai sabia explicar muito bem o porquê de haver batizado o vilão com aquele termo.
O fato é que por muito tempo Boko Moko esteve no dicionário da gíria brasileira e Roberto Marquis acabou assumindo Teobaldo como nome artístico. Ele ainda está na ativa, morando na cidade de Praia Grande, em São Paulo.
Marthus Mathias nasceu em Itajubá-MG, em 1927, e faleceu em Campo Grande-MS, em 1995.
Começou a carreira como radioator na Rádio Record, em 1951.
Teve uma carreira de altos e baixos, participando de radionovelas, telenovelas e vários filmes.
Sua voz forte e grave era sua marca registrada. E foi por causa da voz – quando emprestada na dublagem a um personagem de desenho – que o tornou nacionalmente conhecido. Marthus Mathias dublou Fred Flintstone, personagem do desenho Os Flintstones.
Clique no vídeo e assista a uma cena de Os Flintstones (1961) com Marthus Mathias como Fred.
Daquele ano em diante Marthus Mathias e Fred Flintstone tornaram-se praticamente uma só pessoa.
Clique no vídeo e assista ao comercial com a locução de Marthus Mathias.
Clique no video e assista a uma cena de Marthus Mathias no episódio Café Marcado da série brasileira Vigilante Rodoviário, em 1961.
Marthus Mathias participou do filme Crônica da Cidade Amada, filme de Carlos Hugo Christensen, de 1964.
Clique no vídeo e assistia à sua cena como garçom contracenando com Walter Breda.
Marthus Mathias participou de quase uma centena de filmes (em geral, no papel de bandido). O primeiro foi o Cais do Vício, em 1953. Depois vieram Jeca Tatu, Casinha Pequenina, Os Amante da Chuva, Besame Mucho e Topo Gigio, o filme, e outros. O último foi Instrumento da Máfia, em 1988.
Também participou de telenovelas como Jerônimo, o herói do sertão (TV Tupi), A Muralha (TV Excelsior), Uma Rosa com Amor (TV Globo), Vitória Bonelli (TV Tupi) e O Espantalho (SBT).
Mas, apesar dos inúmeros trabalhos, Marthus Mathias será sempre lembrado pela sua a voz, a voz de Fred Flintstone.
Jacqueline Myrna é seu nome. Nasceu em Bucareste, na Romênia, em 04 de Dezembro de 1949, mas passou boa parte da infância na França. Veio para o Brasil com menos de 15 anos e aqui tornou-se um fenômeno em televisão, teatro, rádio e cinema.
Segundo ela, na época, um produtor sugeriu que aumentasse a idade para evitar problemas com o juizado de menores. Por isso, em algumas reportagens, seu nascimento aparece datado como 1944. Mas esse detalhe não foi suficiente para o ucraniano Konstantin Tkaczenko, diretor cinematográfico, que convidou aquela ainda menina para participar do filme Amor na Selva, em 1961.
Dona de sorriso contagiante, rosto de menina e corpo de mulherão, Jacqueline não demorou a conquistar o meio artístico. Ela era dançarina, tocava violão e piano, falava correntemente inglês, espanhol, italiano, francês, português e, claro, romeno. Começou na TV como bailarina, inicialmente fazendo parte do programa Moacyr Franco Show, na TV Excelsior-SP.
Embora falasse relativamente bem o português, Jacqueline carregava nos “erres” ao falar. E foi Moacyr Franco quem resolveu convidá-la para participar do seu famosos quadro chamado O Taxista. No quadro, Moacyr interpretava um taxista que só aceitava levar mulher em seu táxi, chamado por ele de viatura. Percebendo que Jacqueline tinha forte sotaque, Moacyr lhe dava algumas palavras pontuais para falar. Em geral, era palavras que tinham o “erre”. Até que, certo dia, ele sugeriu que ela dissesse Araraquara. Programa ao vivo, TV Excelsior, era primeiro lugar em audiência às quintas-feiras. Quando Jacqueline falou, o que se ouviu foi “Arrarraquarra”. Foi uma explosão de gargalhadas.
Dali para frente, Jacqueline passou a ter participação constante no programa de Moacyr e em vários outros da emissora. Além de sua beleza e simpatia, o público esperava com ansiedade que ela dissesse a palavra mágica: Arrarraquarra. Não precisava nem de contexto, afirmou a própria Jacqueline em recente entrevista, direto do EUA, dada a mim e a ao jornalista Marcelo Duarte, no programa “Você é Curioso?” da Rádio Bandeirantes. “Bastava eu dizer Arrarraquarra e todos caíam na gargalhada”.
Jacqueline Myrna foi contemplada com o Troféu Roquette Pinto como revelação artística feminina do ano de 1963.
E aquela “francesinha de Arrarraquarra”, como era conhecida, que havia começado em teatro de revista como bailarina, passou de figurante para vedete; depois para atriz de comédia.
Como não podia deixar de ser, havia grande expectativa de que o sex-simbol da tevê fizesse strip-tease nos famosos shows de boates top. Isso nunca aconteceu, embora mas não tivessem faltado tentativas.
Jacqueline saía dos padrões das atrizes e vedetes da época: gostava de tricotar e assumia ser devota de São Jorge. E numa época em que mulher de corpão parecia nada ler, ela lia Steimbeck e Carlos Heitor Cony.
Outro sucesso de Jacqueline Myrna aconteceu em 1965 em Praça da Alegria, na TV Record, contracenando com Manoel de Nóbrega. Jacqueline fazia a personagem da imigrante inocente, surgindo ali o bordão “brasileiro é tão bonzinho” (que quase uma década depois faria sucesso com Kate Lyra, na Praça da Alegria, na TV Globo). Mas Arrarraquarra continuava insuperável. Alguns dos programas que ela fez em televisão:
Moacyr Franco Show – TV Excelsior
Praça da Alegria – TV Record
Grande revista – TV Rio
Times Square – TV Rio
É Uma Graça, Mora – TV Record
Viva o Vovô Deville – TV Rio
Hotel do Sossego – TV Record
O sucesso de Jacqueline Myrna a levou a gravar duas músicas, em 1964. Você poderá ouvi-las na sessão Pérolas Sonoras aqui do blog.
O sotaque sensual a levou para comandar um programa no rádio chamado “Jacqueline Mon Amour”. O programa era transmitido pela Rádio Excelsior. Inicialmente Jacqueline dialogava com o radialista e produtor Henrique Lobo. Depois passou a dialogar diretamente com os ouvintes, como se falasse exclusivamente a cada um deles. O programa, diário, ficou no ar por dois anos.
Jacqueline Myrna foi eleita duas vezes uma das Certinhas do Lalau, em 1963 e 1965. Jacqueline também está na sessão Certinhas do Lalau, aqui neste blog.
Aos poucos, Jacqueline Myrna foi se firmando também como atriz dramática. Participou da novela A Indomável, na TV Excelsior, em 1967. Esse convite era fruto de seus sucesso no filme As Cariocas, de Walter Hugo Kouri, em 1966. No mesmo ano ela faria o filme A Desforra, de Gino Palmisano.
Em 1968, com o mesmo Walter Hugo Khouri, Jacqueline voltava às telas no filme As Amorosas. Clique no vídeo abaixo e assistia a uma cena com sua participação (dublada) no filme ao lado do ator Paulo José.
O filme lhe valeu o título de a Marylin Monroe Brasileira.
Com a carreira cada vez mais em ascensão, no início dos anos 70 Jacqueline iria para os Estados Unidos a trabalho, mas voltaria ainda para fazer o filme Confissões do Frei Abóbora, estrelando ao lado de Tarciso Meira, em filme dirigido por Braz Chediak. Clique no vídeo abaixo e veja uma cena de Jacqueline Myrna (novamente dublada) em seu último trabalho no Brasil.
Depois de haver feito o filme, Jacqueline voltou para os Estados Unidos e nunca mais retornou ao Brasil. Foi na América do Norte de que nasceu sua filha, Victoria, que lhe deu três netos. Por ali ela é conhecida como Jackie Mitler (sobrenome de seu primeiro marido). Entretanto, a recente entrevista dada á Rádio Bandeirantes a fez adotar seu nome de solteira no perfil do Facebook.
Mas para os fãs do Brasil, que até hoje se manifestam, ela sempre sempre a Jacqueline Myrna, a francesinha de Arrarraquarra.