Em Abril de 1967 a Equipe A da TV Record [equipe de criação da emissora formada por Antônio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta; Nilton Travesso, Raul Duarte e Manoel Carlos (que viria a se tornar novelista)] revolveu criar um programa de competição musical. O termo game-show ainda não havia chegado ainda ao Brasil. A ideia era simples, assim como eram os chamados jogos de salão. Diante de um grupo de seis participantes, o apresentador diria uma palavra e aquele que primeira se soubesse e/ou cantasse uma música que contivesse a palavra marcaria ponto. Ao final do programa, o participante que marcasse mais pontos sairia como vencedor. Simples assim. Mas seria necessário fazer um piloto do programa antes de colocá-lo no ar. O problema é que não havia espaço físico nem tempo disponível para isso. A solução, então, foi fazer um teste dentro de um programa já existente. O programa escolhido foi o da Hebe Camargo, que ia ao ar aos domingos à noite.
Seria um quadro extra colocado no programa. Desse quadro extra, sob o comando da própria Hebe, participaram alguns cantores e cantoras pertencentes ao cast da emissora. Dentre eles estavam, entre outros, Nara Leão e Wilson Simonal.
Hebe explicou o quadro e logo depois foi logo dizendo “A palavra é…. OSSO”. Silêncio total no palco. Nenhum dos participantes se lembrava de alguma música que tivesse a palavra osso. Hebe, com toda a sua experiência, dirigiu-se ao público perguntando se alguém sabia. UM senhor levantou a mão e Hebe o desafiou a subir ao palco e cantar. O homem não vacilou. Subiu e cantou o trecho de uma música: “Se não tem água / eu furo um poço / Se não tem carne / eu compro um osso / e ponho na sopa / e deixo andar”. Aplausos e risos. Aplausos pela memória musical. Risos porque tratava-se da canção “Opinião”, que havia sido grava por… Nara Leão. Apesar do percalço, ficou a para todos a impressão de que o quadro havia tido boa aceitação. A Equipe A resolveu, então, arriscar e na primeira quinta-feira de Maio, dia 04, às 20 horas tinha início “Esta Noite Se Improvisa” sob o comando de Blota Jr.
Gravado no Teatro Paramount, em São Paulo, o programa caiu logo na aceitação do público paulista. Prova está que em apenas um mês o programa já estava entre os mais vistos e em dois meses estava quase no topo da maior audiência. Com o sucesso em São Paulo, não tardou para que “Esta Noite Se Improvisa” passasse a ser exibido, em vídeo-tape, no Rio de Janeiro (por incrível que pareça) pela TV Tupi, Canal 6. O programa oferecia um grande prêmio ao vencedor da noite: um carro Gordini zero quilômetro. O programa tinha uma dinâmica fácil. Os competidores ficavam sentados em frente a uma pequena instante, cada uma com um botão. Assim que o apresentador Blota Jr. dissesse a palavra a ser adivinhada, aquele que apertasse primeiro o botão [cuja indicação era conferida através de uma luz] tinha o direito de cantar a música que contivesse a palavra. Era um exercício de memória musical, agilidade e reflexo. A pontuação era interessante: 1 ponto para quem apenas dissesse o nome da música que continha a apalavra indicada. 3 pontos para quem cantasse apenas o trecho que se encontra a tal palavra. E 6 pontos para quem cantasse a música (desde que certa) inteira. Porém, se a música indicada ou cantada não contivesse a música, o participante seria penalizado com, respectivamente -1, -3 e -6 pontos. A apresentação sempre marcante de Blota Jr., que fazia um delicioso suspense no momento de dizer a palavra, fez com que o programa ficasse conhecido popularmente por “A palavra é…” O programa teve várias feras, também chamados de “papa-Gordini”. Dentre eles estão Wilson Simonal, Chico Buarque de Hollanda, Caetano Velloso, Carlos Imperial, Aracy de Almeida e Aquiles, integrante do grupo vocal MPB-4.
Pode-se dizer que Caetano Velloso ficou conhecido pelo público do eixo Rio-São Paulo por causa do programa. Da mesma forma, pode-se dizer que Carlos Imperial, malandramente, era super comentado em São Paulo ao agitar a plateia, alegando que sua sorte se devia ao fato de ser simpatizante do Corinthians.
Um dos momentos mais inusitados do programam foi quando Chico Buarque apertou o botão e teve o direito de dizer/cantar qual era a música que continha a palavra. Chico foi ao microfone e cantou uma bonita canção. Ao final, o resultado: – 6 pontos. Vaias do público. Mas aí veio a explicação: por não se lembrar de nenhuma música que continha a palavra [ele apertara o botão apenas no impulso de ser o primeiro e pensar depois], Chico resolveu a questão cantando uma música que ainda não existia, pois ele a compusera ali naquela hora, de puro improviso.
Com o passar o do tempo, percebendo que o programa começava a perder o fôlego, a Equipe A da TV Record, resolveu oxigenar a atração dividindo-a em duas partes. Numa primeira parta o já famoso “A palavra é…” e numa segunda parte o conhecido Jogo da Mímica, que logo passou a ser chamado de “Esta Noite Se Mimica”. Na parte da mímica a brincadeira era entre times formado por três integrantes. Neste segmento, reinou o trio formado pela cantora Lílian (da dupla Leno e Lílian) mais seu marido e seu cunhado, Márcio e Ronald, que formavam a dupla Os Vips. Lílian depois saiu dando espaço a Ronnie Von. Também o trio formado por Jô Soares, Renata Fronzi e Zeloni (por vezes substituído por Miele) também foi vencedor várias vezes. E como nem todo cantor era bom de mímica, às vezes havia reclamação dos seus parceiros de time. Como se pode confirmar abaixo a reclasmação de Hebe Camargo a respeito de Agnaldo Rayol.“Esta Noite Se Improvisa” permaneceu no ar entre Maio de 1967 e Junho de 1968 sempre com altíssima audiência tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro.
Infelizmente não existem arquivos nem de áudio nem de vídeo. Mas há um depoimento extremamente bem-humorado de Chico Buarque de Hollanda a respeito do programa que está no documentário Uma Noite em 67, dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil, produzido em 2010. Clique no player e assista Chico Buarque falando de forma muita divertida sobre Esta Noite Se Improvisa.