Jacqueline Myrna é seu nome. Nasceu em Bucareste, na Romênia, em 04 de Dezembro de 1949, mas passou boa parte da infância na França. Veio para o Brasil com menos de 15 anos e aqui tornou-se um fenômeno em televisão, teatro, rádio e cinema.
Segundo ela, na época, um produtor sugeriu que aumentasse a idade para evitar problemas com o juizado de menores. Por isso, em algumas reportagens, seu nascimento aparece datado como 1944. Mas esse detalhe não foi suficiente para o ucraniano Konstantin Tkaczenko, diretor cinematográfico, que convidou aquela ainda menina para participar do filme Amor na Selva, em 1961.
Dona de sorriso contagiante, rosto de menina e corpo de mulherão, Jacqueline não demorou a conquistar o meio artístico. Ela era dançarina, tocava violão e piano, falava correntemente inglês, espanhol, italiano, francês, português e, claro, romeno. Começou na TV como bailarina, inicialmente fazendo parte do programa Moacyr Franco Show, na TV Excelsior-SP.
Embora falasse relativamente bem o português, Jacqueline carregava nos “erres” ao falar. E foi Moacyr Franco quem resolveu convidá-la para participar do seu famosos quadro chamado O Taxista. No quadro, Moacyr interpretava um taxista que só aceitava levar mulher em seu táxi, chamado por ele de viatura. Percebendo que Jacqueline tinha forte sotaque, Moacyr lhe dava algumas palavras pontuais para falar. Em geral, era palavras que tinham o “erre”. Até que, certo dia, ele sugeriu que ela dissesse Araraquara. Programa ao vivo, TV Excelsior, era primeiro lugar em audiência às quintas-feiras. Quando Jacqueline falou, o que se ouviu foi “Arrarraquarra”. Foi uma explosão de gargalhadas.
Dali para frente, Jacqueline passou a ter participação constante no programa de Moacyr e em vários outros da emissora. Além de sua beleza e simpatia, o público esperava com ansiedade que ela dissesse a palavra mágica: Arrarraquarra. Não precisava nem de contexto, afirmou a própria Jacqueline em recente entrevista, direto do EUA, dada a mim e a ao jornalista Marcelo Duarte, no programa “Você é Curioso?” da Rádio Bandeirantes. “Bastava eu dizer Arrarraquarra e todos caíam na gargalhada”.
Jacqueline Myrna foi contemplada com o Troféu Roquette Pinto como revelação artística feminina do ano de 1963.
E aquela “francesinha de Arrarraquarra”, como era conhecida, que havia começado em teatro de revista como bailarina, passou de figurante para vedete; depois para atriz de comédia.
Como não podia deixar de ser, havia grande expectativa de que o sex-simbol da tevê fizesse strip-tease nos famosos shows de boates top. Isso nunca aconteceu, embora mas não tivessem faltado tentativas.
Jacqueline saía dos padrões das atrizes e vedetes da época: gostava de tricotar e assumia ser devota de São Jorge. E numa época em que mulher de corpão parecia nada ler, ela lia Steimbeck e Carlos Heitor Cony.
Outro sucesso de Jacqueline Myrna aconteceu em 1965 em Praça da Alegria, na TV Record, contracenando com Manoel de Nóbrega. Jacqueline fazia a personagem da imigrante inocente, surgindo ali o bordão “brasileiro é tão bonzinho” (que quase uma década depois faria sucesso com Kate Lyra, na Praça da Alegria, na TV Globo). Mas Arrarraquarra continuava insuperável. Alguns dos programas que ela fez em televisão:
Moacyr Franco Show – TV Excelsior
Praça da Alegria – TV Record
Grande revista – TV Rio
Times Square – TV Rio
É Uma Graça, Mora – TV Record
Viva o Vovô Deville – TV Rio
Hotel do Sossego – TV Record
O sucesso de Jacqueline Myrna a levou a gravar duas músicas, em 1964. Você poderá ouvi-las na sessão Pérolas Sonoras aqui do blog.
O sotaque sensual a levou para comandar um programa no rádio chamado “Jacqueline Mon Amour”. O programa era transmitido pela Rádio Excelsior. Inicialmente Jacqueline dialogava com o radialista e produtor Henrique Lobo. Depois passou a dialogar diretamente com os ouvintes, como se falasse exclusivamente a cada um deles. O programa, diário, ficou no ar por dois anos.
Jacqueline Myrna foi eleita duas vezes uma das Certinhas do Lalau, em 1963 e 1965. Jacqueline também está na sessão Certinhas do Lalau, aqui neste blog.
Aos poucos, Jacqueline Myrna foi se firmando também como atriz dramática. Participou da novela A Indomável, na TV Excelsior, em 1967. Esse convite era fruto de seus sucesso no filme As Cariocas, de Walter Hugo Kouri, em 1966. No mesmo ano ela faria o filme A Desforra, de Gino Palmisano.
Em 1968, com o mesmo Walter Hugo Khouri, Jacqueline voltava às telas no filme As Amorosas. Clique no vídeo abaixo e assistia a uma cena com sua participação (dublada) no filme ao lado do ator Paulo José.
O filme lhe valeu o título de a Marylin Monroe Brasileira.
Com a carreira cada vez mais em ascensão, no início dos anos 70 Jacqueline iria para os Estados Unidos a trabalho, mas voltaria ainda para fazer o filme Confissões do Frei Abóbora, estrelando ao lado de Tarciso Meira, em filme dirigido por Braz Chediak. Clique no vídeo abaixo e veja uma cena de Jacqueline Myrna (novamente dublada) em seu último trabalho no Brasil.
Depois de haver feito o filme, Jacqueline voltou para os Estados Unidos e nunca mais retornou ao Brasil. Foi na América do Norte de que nasceu sua filha, Victoria, que lhe deu três netos. Por ali ela é conhecida como Jackie Mitler (sobrenome de seu primeiro marido). Entretanto, a recente entrevista dada á Rádio Bandeirantes a fez adotar seu nome de solteira no perfil do Facebook.
Mas para os fãs do Brasil, que até hoje se manifestam, ela sempre sempre a Jacqueline Myrna, a francesinha de Arrarraquarra.