Enrico Simonetti
Nascimento 29/01/1924 – Alássio (IT)
Falecimento 28/05/1978 – Roma (IT)
Começou a estudar música aos 4 anos e aos 9 ganhou uma bolsa de estudos na Fondazione Accademia Chigiana, em Siena. Aos 11 já era considerado um virtuose ao piano tendo começado a estudar na Accademia Nazionale di Santa Cecília, em Roma. Dedicou-se completamente à música após a guerra. Em 1945 formou um conjunto e viajou com ele pela Itália, Suíça e Turquia, onde morou por dois anos. Em 1949 retornou à Itália e ali recebeu um convite para excursionar pela América do Sul. O destino inicial foi o Chile e depois a Argentina. Por conta própria decidiu conhecer o Brasil, onde chegou em 1950. Não foi difícil para Simonetti encontrar emprego no Brasil, sobretudo na cidade de São Paulo, um dos maiores redutos da migração italiana.
Começou a fazer a parte musical num bar chamado Nick Bar, que ficava ao lado do Teatro Brasileiro de Comédia.
Seus arranjos ao piano chamaram a atenção da clientela do bar da qual fazia parte o o pessoal do TBC. Não demorou para que Simonetti recebesse o convite para musicar uma comédia que entraria em cartaz: O Anjo de Pedra, de Tennessee Willians.
Foi esse o seu primeiro trabalho profissional como músico no Brasil. No ano seguinte viria o convite para musicar o filme Presença de Anita, que foi um sucesso de bilheteria.
Dessa forma, através de seu talanto como pianista e, compositor e arranjador, Simonetti musicou inúmeros espetáculos tanto nos palcos quanto nas telas.
O cinema abriu-lhe as portas para o veículo de comunicação mais forte na época: o rádio. Em 1952 ele era contratado pela Rádio Record de São Paulo.
Seu talento não tardou a ser reconhecido, pois no mesmo ano Simonetti ganharia seu primeiro troféu Roquette Pinto (que, na época, era o prêmio máximo do rádio e da televisão sobretudo em São Paulo).
Interessante observar que, aqui no Brasil, Enrico Simonetti aportuguesou seu nome, assinando Henrique. Por isso, à época, era muito comum ver-se Henrique Simonetti em revistas e jornais referindo-se ao maestro.
Simonetti era um sujeito comunicativo e muito educado. Não havia quem não gostasse de trabalhar com ele. Tanto pelo seu talento quanto pelo seu bom humor.
O trabalho em cinema iria proporcionar outro momento de emoção para Simonetti: o de ser premiado com o Troféu Saci como melhor trilha sonora com o filme A Carne, em 1953.
E, como não poderia deixar de ser, depois dos tablados, das telas e dos microfones de estúdio, Simonetti foi levado para a televisão, tendo sido contratado, em 1954, pela TV Paulista Canal 5.
Com uma produção artística invejável, Simonetti tornou-se um dos maiores nomes da gravadora Polydor.
Em 1957, Simonetti trocaria a Polydor pela RGE. Em sua nova gravadora, além de ser o diretor artístico, Simonetti era também arranjador, tendo lançado vários nomes no mundo da música, dentre eles Maysa e Agostinho dos Santos.
Ainda no mesmo ano, Simonetti receberia vários prêmios como arranjador.
Dentre os prêmios estavam dois dos mais cobiçados prêmios do meio artístico. O primeiro delas foi o Prêmio Cidade São Paulo como o Melhor Arranjador de cinema com o filme Leonora.
Da mesma forma, ele receberia o Troféu Roquette Pinto (seu segundo Roquette) como Melhor Maestro Orquestrador de televisão.
O ano também coincidiu com o lançamento de seu novo disco com sua orquestra.
Simonetti ainda lançaria vários outros discos, transitando muito bem entre os mais variados estilos. É preciso dizer aqui que ao final dos anos 50 a orquestra de Simonetti era a mais requisitada para os grandes bailes.
Isso em um tempo que os bailes contavam com feras da batuta como Sílvio Mazzuca, Osmar Milani e Robledo.
[Imagens acima obtidas no blog www.pontodosmusicos.blogspot.com.br]
Chegava, então, o ano de 1960, que seria particularmente marcante para a carreira do maestro no Brasil. Contratado pela TV Excelsior, Canal 9, de São Paulo, Simonetti foi convidado a apresentar um programa com seu nome. À frente de sua famosa orquestra Simonetti alternava música com esquetes criativos em que ele e alguns de músicos participavam. Dentre esses músicos destacavam-se Edgar [Edgar Gianullo, o guitarrista]; Capacete [Robero B. H. de Azevedo, baixista]; Juquinha [trompetista] e Hector Costita [saxofonista].
O famoso Boni [José Bonifácio Sobrinho] foi o primeiro diretor e roteirista de “Simonetti Show”, exibido todas as sextas-feiras, em horário nobre.
Em seu livro [O Livro do Boni, Editora Casa da Palavra] Boni relata como tudo começou. “Em 1960, a orquestra do Simonetti ficou tão popular que passou a ser a campeã de bailes em São Paulo e a mais cara entre todas as orquestras de música dançante. Por essa razão, o Álvaro de Moya, diretor artístico da TV Excelsior, convidou o maestro Simonetti para fazer um show na televisão. O Jacques Netter ficou entusiasmado, contaminando o Scatena, e eu fui convocado para trabalhar no projeto. Simonetti e eu pensamos que não poderia ser apenas uma apresentação musical. Tínhamos na banda algumas figuras naturalmente engraçadas, como o Edgar, da guitarra, e o tímido Capacete, do contrabaixo. Pensamos então em intercalar música e humor feito pelos próprios integrantes da orquestra. O formato foi levado pelo Jacques ao Álvaro de Moya, que o aprovou com entusiasmo e me chamou para acertar o meu cachê.” Ainda no livro, Boni faz referências ao programa de estreia de “Simonetti Show”. “No primeiro programa, apareci vestido de cangaceiro, com uma faca entre os dentes, enquanto o locutor anunciava: ‘Este é o nosso querido e sempre carinhoso diretor.’ Fizemos miséria. Em um arranjo para samba da abertura de Guilherme Tell, havia um interminável solo de clarineta feito de propósito. Enquanto durava o solo, coloquei toda a orquestra para jogar baralho. Em um dos finais, criticado por muita gente como anticlímax, o Simonetti fez um arranjo em jazz para ‘Nana neném’. No auge do swing, virava uma melodiosa canção para dormir e ele, ao piano, bocejava, tirava uma dentadura falsa da boca, colocava dentro de um copo de água e caía no sono. Em seguida os músicos, progressivamente, iam parando de tocar e dormiam também. Os letreiros de encerramento foram apresentados ao som de roncos ensurdecedores e o programa terminou com o palco escurecendo.” No ano seguinte, Boni seria obrigado a deixar o “Simonetti Show”. Para o seu lugar havia sido indicado um ator e também roteirista do Rio Janeiro. Pelo fato de estar muito gripado, Boni foi obrigado a fazer na cama a entrevista com seu futuro sucessor no programa. Um cara chamado Jô Soares. Por esse motivo é que tanto Jô quanto Boni costumam dizer que se conheceram na cama. Sob o comando de Jô o “Simonetti Show” ganharia a presença feminina da atriz e cantora Lolita Rodrigues.
Lolita participava do programa como a Dona Lola, uma espécie de secretária de palco de Simonetti, que participava tanto dos esquetes como de vários números musicais.
O programa que já era absoluto em São Paulo passou a ser sucesso também no Rio de Janeiro, Primeiramente na TV Rio.
E posteriormente na TV Excelsior – Canal 2 – Rio.
Não havia comentário a respeito do “Simonetti Show” que não fosse elogioso.
O sucesso de “Simonetti Show” conduziu o maestro ao seu terceiro Troféu Roquette Pinto, o de 1962, como melhor orquestra de televisão.
Em entrevista à Revista do Rádio, em 1962, Simonetti falava a respeito do seu programa.NO mesmo ano, Simonetti ganharia ainda o Troféu Saci [prêmio aos melhores do cinema brasileiro] como autor e arranjador da trilha sonora do filme Mulheres & Milhões.
Até em garoto-propaganda ele se transformou.
Em 1963, para tristeza do público brasileiro, o maestro Enrico Simonetti voltaria para a Itália.
Porém, seu nome nunca seria esquecido. Era comum ler em jornais e revistas notícias a respeito da sua talvez (im)possível volta ao país. Da mesma forma, foram várias as notícias de encontros de artistas brasileiros com o maestro no exterior.
Simonetti continuou na Itália a sua carreira como músico. Mas não deixou de lado o humor, tendo participado de inúmeros esquetes no programa Sabato Sera, da RAI.
Da mesma forma, Simonetti continuou ligado ao cinema seja como compositor ou até mesmo como ator. Enrico Simonetti faleceu em 1978, aos 54 anos, em função de complicações em uma cirurgia.
Clique no player e divirta-se com uma apresentação de Enrico Simonetti no programam Sabato Sera, na RAI, em 1967, dando (literalmente) uma aula sobre humor.
Seguindo o caminho de Enrico, seu filho, Cláudio Simonetti, nascido do Brasil, vive na Itália desde que o maestro Simonetti para lá se mudou.
Cláudio Simonetti é músico e produtor, tendo se tornado especialista na criação de trilhas musicais para filmes de terror como, por exemplo, Suspiria (1977), cuja trilha foi gravada pela banda Goblin da qual Cláudio Simonetti era o líder. Um dos últimos trabalhos de Cláudio Simonetti foi para o filme Drácula 3D do diretor italiano Dario Argento.